quinta-feira, 18 de abril de 2013

Pobre, africano e homoafetivo, Jesus deu sua vida por alguém assim?

Pensando em certos conceitos criados pelo evangelicalismo brasileiro, com muita facilidade é possível descartá-lo como opção de fé e crença. Não apenas pela intolerância ou ignorância, mas essencialmente pela sua constante incongruência. Ser evangélico não é mais sinônimo de ser cristão, discípulo e seguidor de Jesus, o Nazareno, o Cristo, o Messias, o Servo Sofredor. Enquanto um discípulo de Jesus reconhece que está nesse mundo para viver como seu Mestre, brilhar sua luz nas trevas, temperar o mundo com suas atitudes, seu amor, seu serviço desinteressado, entregando sua vida, negando a si mesmo em favor dos outros (de todos, não apenas dos irmãos ou amigos próximos), dando mais que recebendo e sem esperar retribuição nessa vida, aceitando o sofrimento como companheiro de jornada, sabendo que sua piedade e semelhança com o Mestre não lhe pouparão de agruras e tristezas, não lhe trarão prosperidade financeira, estabilidade pessoal ou profissional, acordando a cada dia para andar como se fosse o último, como se estivesse caminhando para a cruz, confrontando em si mesmo o pecado, o desvio, a soberba, arrogância e dando ao mundo a oportunidade de conhecer seu Amado Salvador, o evangélico tradicional ou genérico vive arrotando seu moralismo, impondo sua retidão, vivendo numa santidade hipócrita, usando a máscara da religião, ditando regras até aos que não conhecem sua fé, e àqueles que ignoram sua religião, enquanto ele mesmo não se porta adequadamente dentro da rigidez que impõe aos outros, não controla as paixões que eventualmente se sobrepõe ao seu desejo de fazer as coisas certas, busca o primeiro lugar nos banquetes e a honra diante dos outros, dá com o intuito de receber, adula o próximo por interesses e despreza todo aquele que pensa diferente dele, ou que não age segundo as regras que ele acredita serem aceitáveis.
Geralmente a sociedade confunde os discípulos de Jesus com os evangélicos nominais simplesmente por ignorar que os discípulos de Jesus ainda existem. Até o mais perverso dos homens reconhece que um verdadeiro discípulo de Jesus deve ser alguém diferente em essência dos demais homens, ao mesmo tempo que pode ser tão humano e falho quanto ele mesmo, e na verdade é. Mas o interesse aqui não é diferenciar um cristão de um religioso qualquer, por mais que essa introdução se faça necessária.
Voltando ao início do texto e aos conceitos difundidos pela religiosidade dita cristã na sua quase totalidade, é possível identificar que eles trazem a tona um ódio irrefreável por tudo que é diferente e especialmente pelo desconhecido. É certo que a Bíblia, texto sagrado dos cristãos nominais e também dos discípulos de Jesus, expõe a pecaminosidade humana em detalhes e também esclarece atitudes e situações que desagradam a Deus, o Deus bíblico, representado na própria pessoa de Jesus. Da mesma forma, demonstra as atitudes do povo de Deus diante do pecado no meio da sua própria nação, não em outras. E demonstra as atitudes de Jesus e seus discípulos diante do pecado daqueles que se diziam reverentes ao seu Deus. Em raros momentos é possível identificar um judeu (no antigo testamento) repreendendo um estrangeiro ou qualquer outra pessoa ou nação que não declarasse servir ao mesmo Deus, e quando isso acontece, é por ordem expressa do próprio Deus com um  propósito bem claro e estabelecido. Mais raro ainda é encontrar nos evangelhos e cartas deixadas pelos discípulos de Jesus atitudes em que Jesus ou um seguidor, confronta o pecado de alguém que não professa a mesma fé, ou que não esteja buscando sua opinião à respeito. O foco da pregação nunca é a atitude do homem pecador, mas a atitude de um Deus amoroso que entregou seu filho para morrer por esse homem pecador, para purificá-lo, para torná-lo um discípulo e só então, separá-lo para o seu serviço.
A Bíblia declara:

“Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. Porque deste número são os que se introduzem pelas casas, e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências; que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade. E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé. Não irão, porém, avante; porque a todos será manifesto o seu desvario, como também o foi o daqueles.” 2Timóteo 3:1-9

Ao que parece, essa passagem trata de homens religiosos. Homens que “tendo aparência de piedade, negam sua eficácia”. Não trata de pessoas de fora do círculo religioso, nem de pessoas que não professam fé alguma, andando por isso segundo seu próprio conselho. Se assim for, parece claro que o discípulo de Jesus não está no mundo para seguir apontando os erros dos outros, nem ao menos estabelecendo a quem ainda não é discípulo, uma forma de levar a vida, se relacionar, pensar, agir ou falar. O discípulo de Jesus sabe que as mudanças promovidas pelo Evangelho são de dentro para fora, nunca uma conformação exterior com qualquer tipo de estereótipo, nem a defesa ou estigmatização dos mesmos.
O mundo não é a igreja. O mundo não será a igreja. Os discípulos de Jesus não pertencem ao mundo e não devem se envolver em negócios desta vida, mas devem procurar a paz com todos no que for possível, pois estão no mundo. Ostentar preconceito por classe social, nacionalidade,  desrespeitar direitos civis declarando estar a favor da família é hipocrisia no sentido de “falsa devoção” definido pelo Aurélio. Ofender e agredir pessoas por sua opção sexual, não é papel do discípulo de Jesus, ainda que a Bíblia trate a diversidade que vem desde sempre, como um desvio do plano estabelecido pelo Criador, assim como trata diversas outras questões totalmente ignoradas, não é papel da igreja legislar sobre os direitos civis por não ser ela uma nação estabelecida aqui. O estado é laico, não possui religião ou fé declarada e não deve impor a ninguém ideologias de qualquer texto sagrado de qualquer religião.
Um discípulo de Jesus não ensina preconceito a seu filho. Ensina ele no caminho que deve andar. Guarda seu filho da influência do mundo enquanto for possível, e prepara ele para andar segundo seu exemplo, ensina o amor, o respeito, a tolerância para com o que é diferente. Tem firme na sua mente que se Jesus fosse preconceituoso como os líderes religiosos e seus seguidores, não haveria esperança para qualquer pessoa. Não teria sequer nascido nessa terra, e se o tivesse, não andaria com os proscritos da sociedade, nem buscaria discípulos entre pobres e ignorantes pescadores ou gananciosos e perversos coletores de impostos, jamais aceitaria morrer entre dois criminosos para que outros criminosos pudessem ser perdoados.
A resposta seria a mesma se a pergunta variasse a condição social, a etnia e a opção sexual. E você deve saber respondê-la.