sexta-feira, 18 de maio de 2012

Adoração Extravagante


Recentemente coloquei  para tocar no carro um dos cds antigos (daqueles que nos são presenteados e que a gente jamais compraria) e tentei deixar-me embalar pela música, mas a mente desperta e esclarecida (cf. 2Pe 3:1) não deixou passar quase nada. Primeiramente por afirmações antibíblicas que beiram ao absurdo, mas também e principalmente, pela lembrança de algumas passagens bíblicas sobre adoração, e o formato da adoração, que nada tinham a ver com a letra das músicas ou com o estilo defendido pelos intérpretes.

Devo admitir que, por muito tempo, fui adepto e defensor de um estilo musical que permitisse explorar os sentimentos e que, a meu ver, ajudava no arrependimento e na cura dos corações. Isso porque eu queria que fosse assim, porque sou sentimental, emotivo e passional. Então, andando na Palavra e deixando-a sobrepor aos sentimentos pude ver com clareza meu engano. É importante esclarecer que a música cristã me emociona, a Palavra de Deus cantada me toca, atinge o âmago de meu ser, limpa, cura e transforma minha vida. Isso jamais deixou de ser um fato.
E qual seria a diferença que procuro salientar? A linha divisória não é tênue, nem imperceptível. Pelo contrário é clara e tangível. Um tipo de música trata da nossa condição como pecadores dependentes da graça, da misericórdia e salvação, louvando ao Deus que a concede através da Palavra e a afirmação dos textos bíblicos. O outro tipo de música trata da intimidade (e sinto até uma dor ao lembrar disso pelos irmãos que levei por esse caminho), trata do desejo de estar fisicamente perto do Senhor, de "sentir" seu abraço, de "tocar" no seu rosto, de "ver" seu sorriso, de molhar seus pés com minhas lágrimas, deitar em seu colo e dezenas de outras ilustrações que quase todo cristão já cantou chorando de joelhos, ou completamente prostrado no chão em soluços e lágrimas, ou ao menos ouviu e sentiu culpa por não conseguir "sentir" o êxtase da adoração extravagante, como é conhecida.
E onde está o problema? O que está errado com a conhecida adoração extravagante?
Em primeiro lugar é necessário declarar que a intimidade física desejada ou uma expressão física qualquer não é adoração, pode até ser extravagante e exagerada, mas não é importante, boa ou saudável para o crescimento cristão. Porque não é bíblica:
Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. Jo 4:20-24
Querer estar para sempre com o Senhor é uma atitude correta, querer tê-lo consigo, andar nos seus passos. Mas tentar traduzir essa necessidade para a nossa realidade é inapropriado porque simplesmente não está na Bíblia e o tipo de adoração que a mulher samaritana prestou ao Senhor depois desse diálogo foi o mais sincero, útil e valioso possível:
Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens: vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?! Saíram, pois, da cidade e vieram ter com ele. Jo 4:28-30
Ela saiu para falar dEle. Ela entendeu que era o mais importante. Em geral, no contexto bíblico, a adoração ou o resultado da obra do Senhor nas vidas é a proclamação dos Seus Feitos, a exaltação da Sua Palavra. Vemos isso nos Salmos, nos profetas, na vida do Senhor Jesus e no caminhar de seus discípulos.
Mas e sobre as pessoas que adoraram ao Senhor Jesus desse jeito extravagante? Ele não chutou nem se esquivou, ao que parece, mas mostrou o que esperava:
E eis que Jesus veio ao encontro delas e disse: Salve! E elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés e o adoraram. Então, Jesus lhes disse: Não temais! Ide avisar a meus irmãos que se dirijam à Galiléia e lá me verão. Mt 28:9-10
Sobre a intimidade verdadeira com o Senhor:
Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer. Não fostes vós que me escolhestes a mim ; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda. Jo 15:13-16 (ênfase pessoal, indicando o centro da ordem)
Considerando a adoração ao Senhor ainda uma última passagem a referir:
Porém Samuel disse: Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros. 1Sm 15:22
Quando Saul fez o que não devia, alegando adoração a Deus, ficar com o melhor para sacrificar ao Senhor, foi advertido que a obediência a Palavra é sempre mais importante que qualquer sacrifício e a submissão é a maior expressão de adoração. Andar na Verdade é adorar.
E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. 2Co 5:15
Viver para o Senhor é verdadeira extravagância. Que a minha e a sua vida sejam como um sacrifício de aroma suave a agradável a Deus, que sejamos o louvor da Sua abundante graça e infinita misericórdia.